quarta-feira, janeiro 03, 2007

Pormenores significantes

A história é simples. Na semana passada, o Ministério da Saúde enviou uma circular recomendando a adopção de sistemas electrónicos de controlo de assiduidade. Medida lógica, transparente e, arrisco dizer, saudável? Não, uma decisão «lamentável, imprópria e populista.» É assim que a define o inefável bastonário da Ordem dos Médicos, para, logo a seguir, descrever, sem sombra de populismo, o centro da questão: os hospitais vão ser «obrigados a comprar relógios quando muitas vezes não têm verba para adquirir medicamentos.»
.
E, como o ridículo e o despudor não matam, o excelentíssimo bastonário larga ainda outra pérola surrealista: «É uma medida que ofende os médicos», até porque, como é do conhecimento popular, «se um elemento da equipa chegar atrasado, acaba por ser banido pelos restantes colegas.» Que levante o dedo quem nunca viu um médico votado ao ostracismo, longe do seu ninho corporativo, por esta ou outras razões!
.
Já o colega dos enfermeiros, Sr. José Azevedo, é apologista de um humor mais contido. Considera a medida um «gasto inútil e desnecessário», salientando que a «assinatura da pessoa é o documento mais fiável». De acordo, é fiável. Fiável e intemporal. Por exemplo, eu assino hoje como assinava há um mês. Num livro de ponto. Por exemplo.

Sem comentários: