quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Praça de Táxis

João Gonçalves apelida as recentes mudanças na gestão do tráfego em Lisboa de fascistas. Junte-se ao clube. Todavia, há uma dúvida que me assalta: vindo de quem vem, não será elogio?

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Mamma Mia

Estive ontem a ver os "Diários de Motocicleta" (hagiografia light e bonitinha do jovem Guevara antes de brincar aos fuzilamentos) e uma coisa vos digo: se esta miúda me desse com os pés, também eu passava a preocupar-me com os pobrezinhos. Alguém estampou a cara errada na t-shirt.
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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Morricoroternsteinalamenti

Numa história aparentemente não relacionada com o Hattogate, o Daniel Oliveira - aquele senhor lá em cima, com óculos à Jean-Luc Godard - acaba de revelar que alguns temas anteriormente atribuídos a Elmer Bernstein, Nino Rota e Angelo Badalamenti são, afinal, da autoria de Ennio Morricone.
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Calma, povo. É só um teaser. Mais logo, se os ventos soprarem a favor, ainda vamos descobrir que Forest Whitaker e Hattie McDaniel são a mesma pessoa.

domingo, fevereiro 25, 2007

Mr. Weird

Wayne Shorter, responsável pelo melhor concerto de 2006.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Remix Ensemble


Apresento-vos uma das poucas fotografias conhecidas de Joyce Hatto, pianista britânica, falecida no ano passado, com 77 anos, depois de uma longa luta contra o cancro. A Sra. Hatto retirou-se do circuito internacional de concertos em 1976, segundo o seu marido, manager e produtor, W. Barrington-Coupe, por recear que os ataques súbitos de dor provocados pela doença prejudicassem a qualidade da sua performance. Depois de alguns anos de silêncio, recomeçou a gravar num estúdio caseiro. Quando os discos começaram a sair, há alguns anos, na pequena editora do marido, as críticas foram tonitruantes. A simples vastidão e diversidade da obra interpretada (mais de cem discos, de Scarlatti a Messiaen), sempre com brilhantismo, não deixava dúvidas: Joyce Hatto era uma das melhores pianistas britânicas de sempre.

E assim foi, até há coisa de duas semanas, quando um jornalista musical resolveu ouvir um disco de Hatto no seu I-pod e este reconheceu a faixa, não como uma interpretação da inglesa, mas do pianista húngaro Laszlo Simon. O resto é arqueologia pós-moderna para audiófilos, uma modalidade de duvidoso futuro. Ashkenazy, Bronfman, Grante, Muraro, Collard, entre outros, passaram a ser, além de músicos reputados, pequenos heterónimos da genial fraude discográfica Hatto/Coupe. Nalguns casos – não todos -, as gravações originais foram alteradas, para parecerem mais rápidas ou mais lentas, o que certamente prolongará por algum tempo decifração completa da charada.

Nada de novo? Pois. É só que, às vezes, perco o interesse na espécie humana e encontro nestes exemplos algo de muito inspirador (e que raramente vejo na música erudita actual): a capacidade de criar. Não admira que os críticos tenham sido enganados.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Cinema Puro


Uma das mais belas, mais famosas e mais inúteis cenas da história do cinema é a do ataque do avião a Cary Grant no filme "North by Northwest." De certa forma, esta cena pode ser isolada do seu todo e exibida à parte, tal a sua autonomia em relação à história. A mera sucessão de imagens e sons, conjugados de determinada forma, independente do seu contexto, tem o poder estético da mais abstracta das artes: a música.
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Não há praticamente nada além de cinema puro em "Femme Fatale." Neste filme de Brian De Palma, como nos últimos filmes de David Lynch, pouco mais interessa que não seja a própria experiência sensorial provocada pela associação de imagens e sons, muitas vezes despidos de moral ou consequência. Se Lynch é um compositor de música de câmara, ampliando detalhes em cenas intimistas, De Palma é um sinfonista, foca pormenores em planos saturados de informação.
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A história, ou o que resta dela, gira, como a música ravel-hermmanniana de Sakamoto, à volta do corpo formidável de Rebecca (nome de filme de Hitchcock) Romijn. Aliás, as referências ao mestre inglês são abundantes: a duplicidade, as espirais, a obsessão metaforizada pela perseguição, o sonho, o voyeurismo, a queda, os meios que replicam ou amplificam a nossa visão como forma de particularizar determinado momento da acção. De Palma leva este jogo de referências intricado a outro nível através da auto-citação.

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É uma verdade velha como o mundo: o que interessa não é o que se conta, mas como se conta. Neste caso, não interessa sequer se se conta alguma coisa. "Femme Fatale" é uma homenagem à sétima arte em geométrica filigrana visual. Por uma vez, as meninas más merecem uma segunda oportunidade. Abençoado cinema.

sábado, fevereiro 17, 2007

The Moose



Woody Allen

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Um País em Saldos

Recebi um convite em casa. É de uma loja de fatos e casual wear para quem gosta do british countryside e recentemente comprou um BMW. Saloios, portanto. A linhas tantas, diz assim:
Contamos com a sua visita, para lhe dar-mos a conhecer as novidades desta estação.

Salvo erro, era o MEC que dizia que não faz muito sentido ser conservador num país com tão pouco que mereça ser conservado. Verdade. Mas isso - tal como este cartão afectado com a epígrafe The Spirit of Tradition - diz menos do país e mais dos que o conservam.
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Post em homenagem a João Fernandes Lavrador, navegador e explorador português.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

VPV

Pois eu sou de esquerda, Tiago, e nunca senti, sequer, o rabinho assado ao ler o nosso Vasco. Verdade seja dita, nunca sofri dos intestinos. Gosto de manga e de corn flakes. E aprecio particularmente quando Pulido Valente afirma - aos 40 minutos e 35 segundos deste programa -, a propósito do inimigo nº 1 da direita portuguesa, Mário Soares, que "o bom que o país tem agora é (principalmente) devido a ele" e que foi "um óptimo governante."
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Ainda que não sejam novidades, é sempre reconfortante ouvi-las da boca de São Vasco, o ídolo da direita que, dissimuladamente (ma non troppo), anda a ver se consegue entronizar o Marocas na categoria do Pior Português de Sempre. Mas adiante, que este blog não trata de técnicas de empalação.

Um Pequeno Abalo

Ontem.

domingo, fevereiro 11, 2007

Beim Schlafengehen



Beim Schlafengehen (Richard Strauss/Hermann Hesse)

Nun der Tag mich müd gemacht,
soll mein sehnliches Verlangen
freundlich die gestirnte Nacht
wie ein müdes Kind empfangen.

Hände, laßt von allem Tun,
Stirn, vergiß du alles Denken,
alle meine Sinne nun
wollen sich in Schlummer senken.

Und die Seele unbewacht
will in freien Flügen schweben,
um im Zauberkreis der Nacht
tief und tausendfach zu leben.

Por Claudio Abbado e Renée Fleming

sábado, fevereiro 10, 2007

César das Neves Descodificado


«The history of economic thought in the twentieth century is a bit like the history of Christianity in the sixteenth century. Until John Maynard Keynes published The General Theory of Employment, Interest, and Money in 1936, economics—at least in the English-speaking world—was completely dominated by free-market orthodoxy. Heresies would occasionally pop up, but they were always suppressed. Classical economics, wrote Keynes in 1936, "conquered England as completely as the Holy Inquisition conquered Spain.»

É assim que Paul Krugman inicia o seu artigo sobre Milton Friedman publicado na New York Review of Books. Vale a pena ler tudo.

O Erro de Pilatos

Se bem me lembro, aqui há uns anos, continuou tudo na mesma porque o povo jovem, moderno e muito hipócrita da capital resolveu ir para a praia sem passar pelas urnas. Se não vão lá pela ética da responsabilidade, eu digo de outra forma: tenham vergonha!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

domingo, fevereiro 04, 2007

Radar Khadafis

Aqui há tempos, o Prof. João Lobo Antunes referia duas éticas fundamentais na vida em democracia: a ética da liberdade e a ética da responsabilidade. Os portugueses, segundo Lobo Antunes, já assimilaram os princípios da primeira, mas estão ainda longe de assumir os deveres da segunda. Estou em total acordo.

Um dos aspectos da vida em sociedade onde mais se nota esta deficiência é a forma como nos comportamos nas estradas. Não me entendam mal, a minha posição relativamente a este assunto é bastante próxima da de Miguel Sousa Tavares: muitos acidentes resultam da má sinalização e construção das estradas e de um policiamento pouco pedagógico, mais preocupado em encher os bolsos do Estado do que propriamente a evitar que vidas se percam. Mas, sem escamotear a importância de qualquer um destes factores, é um facto que conduzimos de forma irresponsável.

O que não posso aceitar é que assumamos em definitivo essa irresponsabilidade e abdiquemos da nossa própria liberdade de fazer bem ou mal. Estou a falar, é claro, dos radares instalados pela Câmara Municipal de Lisboa em avenidas - a certas horas, parecem mais auto-estradas - que disparam automaticamente, sempre que um condutor ultrapassa o limite de velocidade. Ora, se disparam sempre e se, consequentemente, a multa vai sempre para casa, o infractor não tem qualquer hipótese de agir mal sem ser punido. Esta prática é, no meu entender, aterradora.

Dirão vocês que exagero, que se trata de mais um daqueles casos em que os fins justificam os meios. Não estou tão certo disso: com o inevitável progresso tecnológico, não tardará que esta ideia infernal da "punição automática" se aplique a outros aspectos da vida privada e em sociedade. Não há, também, câmaras de video em praticamente todas as artérias de qualquer metrópole? Será que falta assim tanto para que, por exemplo, as casas de cadastrados sejam controladas por olhos electrónicos, de forma a prevenir violência familiar e abusos sexuais de menores? Não existe já um chip que, implantado em crianças, permite aos pais controlar sempre a sua localização?

Já o disse aqui, os maiores ataques à nossa forma de viver virão de nós e da forma como, voluntariamente, escolheremos abdicar dos direitos e responsabilidades que nos competem.

Aborto VI - A Questão de Consciência

Tem sido dito, até dos dois lados em confronto, que o que está em causa é um problema de consciência. Oxalá fosse, mas não é. A questão da interrupção voluntária da gravidez, hoje e em Portugal, é um problema com dimensão política, porque de saúde pública. E é um problema de pobreza, incultura, menorização preconceituosa da mulher e medo. Nada disto faz com que a mulher que não pode (ou responsavelmente não quer) ser mãe aceite o filho indesejado. Tudo isto apenas a empurra para o aborto clandestino. A consciência tem o seu espaço de respiração na liberdade e na responsabilidade. Se o "sim" ganhar, então, de facto, levar por diante uma gravidez indesejada ou aceitar, livre e responsavelmente, dar vida passará a ser um problema de consciência.



Nuno Brederode Santos