domingo, dezembro 31, 2006

The Prestige

Deixei a citação do post anterior a propósito do filme de Christopher Nolan que estreou recentemente. Os temas são familiares: a rivalidade artística, a obsessão, o sacrifício pela beleza e pela imortalidade. As suas falhas também: um final algo pífio, como agora é comum usar-se, e as personagens femininas. Nesse aspecto - que me perdoe Scarlett e a sua sensualidade intermitente -, estávamos mais bem servidos pela fabulosa Jessica Biel no outro filme deste ano sobre ilusionismo no final do século XIX.

Há, contudo, diversas opções que importa elogiar. Como a saudável recusa em defender uma personagem por contraponto a outra, nesta luta de dois seres desfigurados pela sua incessante busca da perfeição. Ou a presença de David Bowie, figura tão respeitável quanto acabada (musicalmente falando), que aqui assina um regresso em grande estilo ao cinema, encarnando o excêntrico e genial Nikola Tesla, alguém que também sabia uma coisa ou duas sobre a rivalidade e a obsessão.

Mas este filme vale sobretudo por Angier, a personagem defendida com brio por Hugh Jackman, ilusionista talentoso com origens renegadas na aristocracia britânica. Pelas críticas que tinha lido antes de ver o filme, concluí que se tratava de um excelente mestre-de-cerimónias, apenas preocupado com a aparência do espectáculo. Nada mais errado. Angier vive amargurado por não ter o talento inato de Braddon (Christian Bale), seu rival. E, de forma secundária, inveja também a vida pessoal que este leva (e lhe tirou). Mas, mesmo nas alturas de maior sucesso profissional, o seu maior desejo é saber o segredo de um truque do seu colega, o qual ele não consegue desvendar.

A história do filme é a história dessa obsessão, da subversão dos valores aceites, da rejeição do banal, tudo em busca da perfeição. A arte obriga-nos a sujar as mãos, alguém diz. Quem não o faz, nunca será um artista completo.

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